A indústria do automóvel é um território onde as apostas são altas. Lançar um modelo realmente novo custa centenas de milhões de dólares. E, por mais e melhores especialistas de mercado que uma empresa tenha, nunca há certeza de um retorno à altura das expectativas criadas para o novo produto.
A Fiat aposta no Argo para voltar à liderança do mercado de automóveis de passeio, que ocupou com relativa tranquilidade por muitos e muitos anos. Mas os tempos mudam, há novos concorrentes, uma crise épica e uma queda na fidelidade dos clientes que atinge todas as marcas, mas abala principalmente as tradicionais. A Fiat perdeu o primeiro lugar em vendas de carros ao mesmo tempo em que a Volkswagen via seu modelo líder de mercado, o Gol, desabar a cada mês no ranking dos mais vendidos.
Para lançar o Argo, a Fiat seguiu uma receita: colocar no novo modelo tudo o que o mercado espera – se possível alguma coisa a mais – e, ao mesmo tempo, aprimorar a qualidade de fabricação para níveis acima da média brasileira. Ao mesmo tempo, foi conservadora em termos de estilo, rendendo-se ao gosto dominante: o estilo “latam” (latino-americano) do Argo parece ter sido obra mais do departamento de marketing do que do design. Ele não chega a desagradar, mas carece de identidade. E há um excesso de “musculatura” em suas linhas, vincos e reentrâncias demasiadas, que resultam num anônimo visual contemporâneo.
Por dentro
A área interna do Fiat Argo é dominada pela tela de sete polegadas que se destaca do centro do painel, de forma semelhante à usada pela Mercedes-Benz. Com o carro ligado, ela esbanja colorido e fica ainda mais chamativa. Chama a atenção também a faixa pintada na área intermediária, incorporando as saídas do ar-condicionado.
Há três versões para o console central, influenciadas pelo tipo de câmbio: o manual, o automatizado com comando por botões e o automático tradicional, com alavanca. O volante tem ar esportivo, é mais espesso que o normal e oferece apoio para os polegares. A base é um pouco achatada e, nas versões automatizada e automática, traz incorporadas as borboletas para troca de marchas na parte de trás.
O quadro de instrumentos também varia com a versão: nas básicas, tem ao centro um display de 3,5 polegadas. Nas versões 1.8 (Precision e HGT), a telinha tem sete polegadas. O computador de bordo é de série em todas as versões, com informações e controles detalhados do carro e da forma de condução. Dependendo da configuração, o número de funções à disposição do motorista pode chegar a 70 – chega a confundir um pouco.
Segurança eletrônica
O novo modelo oferece de série o controle eletrônico de estabilidade e controle de tração. Esses dois sistemas são um aproveitamento da arquitetura dos freios ABS e usam seus sensores e atuadores para aumentar a segurança nas curvas e em pisos escorregadios. Já deviam estar presentes em todos os carros há muito tempo, mas mesmo tardios, são bem-vindos. O mesmo para o Hill Holder, assistente para partida em rampa, que impede que o carro recue nas saídas.
A rigidez da carroceria do Argo é elevada, fruto de um novo projeto e do uso de aços de alta resistência nos pontos mais importantes, incluindo elementos moldados a quente. Carroceria mais rígida, além de aumentar a segurança em caso de choques, proporciona uma melhor base de fixação para a suspensão, proporcionando melhor dirigibilidade.
Muito bom é o espaço interno, principalmente para quem viaja atrás. E o porta-malas retangular de 300 litros, além de amplo facilita a distribuição da bagagem. O banco do motorista tem ajuste de altura e o volante, dependendo da versão, pode permitir regulagem de altura e profundidade.
Rodando
Nosso primeiro contato com o Argo foi nas movimentadas ruas de São Paulo, habitat natural para modelos hatch. Um dos pontos que impressiona no carro é o silêncio interior: dá para conversar sem forçar a voz e escutar música numa atmosfera legal, sem interferências externas.
Andamos inicialmente com uma versão Drive, com motor 1.3 de 109 cv e câmbio automatizado. O motor mostrou-se competente. Dentro de suas limitações de potência, tem bom desempenho no trânsito, acelerando na medida para acompanhar o fluxo sem dificuldades. O câmbio automatizado, que ganhou a sigla GSR, mostra evolução: a cada nove geração as trocas de marchas estão ficando mais suaves e menos perceptíveis. Brusco, mesmo, é o seu preço: R$ 5 mil é muito caro pelo recurso.
Ao apostar no Argo a Fiat distribuiu as fichas de forma bastante abrangente. As versões do Argo vão desde o básico Drive 1.0 tricilíndrico de 77 cv com câmbio manual até o 1.8 de 139 cv com câmbio automático tradicional de seis marchas. As versões topo de linha, também identificadas por uma sigla – HGT – tem desempenho mais atlético mas, além de caras, não primam pela economia de combustível.
Versões e preços
Fiat Argo Drive 1.0 – R$ 46.800
Fiat Argo Drive 1.3 – R$ 53.900
Fiat Argo Drive 1.3 GSR – R$ 58.900
Fiat Argo Precision 1.8 – R$ 61.800
Fiat Argo Precision 1.8 AT6 – R$ 67.800
Fiat Argo HGT 1.8 – R$ 64.600
Fiat Argo HGT 1.8 AT6 – R$ 70.600
Série especial Opening Edition Mopar – R$ 75.200
Baseada na versão HGT 1.8 AT6, a série de lançamento é limitada a mil unidades e traz um conjunto de acessórios montados na fábrica. Disponível apenas na cor azul, tem o teto e os retrovisores externos pintados de preto e aerofólio na tampa traseira.
Publicado em 06/06/2017
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