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  • Dinossauros em Paris: um século perseguindo a velocidade
  • Evento na capital francesa terá demonstrações de arrancada de carros que, há cerca de cem anos, perseguiram a marca mística dos 200 km/h
  • Por Jorge Meditsch

    Ontem como hoje, a velocidade sempre foi uma grande motivação para os contrutores de carros. Apesar de distantes da performance de certos automóveis contemporâneos, os carros do passado não estão descansando. O Salon Retromobile, principal evento de carros antigos da França, apresentará em fevereiro deste ano aos seus visitantes três carros construídos para estabelecer recordes. Os carros, bastante diferentes entre si, têm em comum a perseguição da velocidade. Verdadeiros testemunhos da história, esses bólidos foram criados por apaixonados pela mecânica à procura de sensações.

    O mais antigo. Napier 1903.

    Este ancião é o carro de corridas britânico sobrevivente mais antigo até hoje. Ele participou, entre outras, da famosa corrida da Copa Gordon Benett de 1903. Foi ao volante dele que o piloto Charles Jarrott, já em plena aceleração, deu uma guinada e foi parar numa vala. Ele e seu copiloto ficaram feridos e o Napier, parcialmente destruído. Quem ganhou a corrida foi o piloto belga Camille Jenatzy, ao volante de seu Mercedes. Ele foi o primeiro piloto a superar 100 km/h no comando do automóvel elétrico La Jamais Contente (Jamais Satisfeito), em 1899. Em seguida, o Napier cruzou o oceano para a América, retornando só em 1987 ao seu país de origem, na coleção do National Motor Museum de Beaulieu. Para grande prazer dos visitantes, o Napier vai realizar demonstrações de arrancadas com seu impressionante motor de quatro cilindros e 7,7 litros.

    Darracq V8

    Esta é a fabulosa história do Darracq V8.

    Na época, a maioria dos construtores automotivos já fazia carros capazes de andar a velocidades elevadas, mas ficou marcado o dia em que, pela primeira vez, um automóvel chegou à mítica velocidade de 200 km/h. O evento ocorreu nos Estados Unidos, no estado da Flórida, há 110 anos. Na época, os construtores competiam entre si no campo de batalha da velocidade pura. Em 1905, nas oficinas Darracq, em Suresnes, esta era a efervescência do momento. O engenheiro mecânico Ribeyrolles une dois blocos de motores de quatro cilindros a uma base comum, criando assim um enorme V8, na esperança de poder andar mais depressa que os outros.

    No final de janeiro de 1906, o piloto françês Victor Demogeot dá a partida no enorme motor de oito cilindros em V de seu Darracq. Este impressionante automóvel francês representava a potência mecânica em estado bruto. Seu chassi nu, sem freios dianteiros, dispunha de dois assentos. A total ausência de carroceria deixava ao ar livre o grande motor V, montado sob um tanque de gasolina em forma de bala de canhão. Após um breve momento para aquecimento, o piloto Victor Demogeot empurra a manete do acelerador até o fundo. COmum som de trovão, o grande V8 de 25 litros e meio de cilindrada solta seus 200 cavalos e se lança pela pista de terra para atingir a velocidade de 197 km/h. Este carro mítico fará ouvir novamente o rugido de seu enorme V8 numa demonstração ao ar livre.

    O Fiat S76 tinha um motor de dirigível de 22,5 litros e uma tonelada de peso, com 300 cv

    FIAT S 76, a "Fera de Turim"

    Há carros que impressionam por suas dimensões e por sua história e o FIAT S76 é um deles.

    Este automóvel de recorde foi concebido pela FIAT em 1911, para concorrer com o potente Blitzen Benz 200 cv. Foram construídos dois exemplares desse monstro mecânico. Os engenheiro italianos da época montaram sobre um chassi um impressionante motor que, originalmente, havia sido projetado para impulsionar balões dirigíveis. Eram quatro cilindros, praticamente 30 litros de deslocamento e 300 cv a 1.900 rpm, com um peso de quase uma tonelada. Um verdadeiro monumento de metal.

    O carro foi construído em torno do motor e resultou num veículo enorme, a tal ponto que a altura do capô impedia em grande parte a visibilidade do piloto. Mesmo parada, a fera já era impressionante, com quase quatro metros de comprimento e capô com 1,60 m de altura, com um peso de duas toneladas. O piloto italiano Felice Nazzaro fi o primeiro a testar a máquina nas ruas de Turim. Já nas primeiras curvas do caminho, o carro superou o piloto. O gigantesco torque do motor tirava o carro da reta, a carroceria vibrava em todos os seus parafusos, a direção era imprevisível e os freios, praticamente inexistentes. O enorme Fiat atravessou as ruas da cidade italiana sob um ruído de trovoada, cuspindo chamas e espessas nuvens de fumaça preta. Quando Felice Nazzaro desliga o contato do monstro vermelho, declara que o inferno existe e que o carro é extremamente perigoso e praticamente inguiável.

    Apesar desses testes preocupantes, a Fiat contrata o grande piloto italiano Pietro Bordino. Ele tentou vários recordes de velocidade máxima, sem nunca conseguir superar o Blitzen Benz. Bordino interrompeu a aventura no final de 1911, ao passar pelo maior susto de sua vida quando o enorme FIAT derrapou a mais de 180 km/h para terminar a corrida atolado na areia da praia de Saltburn.

    O carro indomável foi vendido mais adiante para o príncipe russo Boris Soukhanoff que, por sua vez, também tenta obter recordes. Ele chegou a atingir mais de 210 km/h em Ostende, em dezembro de 1913, batendo assim o recorde de velocidade em um quilômetro estabelecido pelo Blitzen Benz. Ele conta que o carro era impressionante ao arrancar e aterrorizante para guiar. Era preciso lutar para manter o carro em linha reta e era impossível fazer qualquer coisa nas curvas devido ao peso do enorme motor e à frenagem inexistente. O carro foi devolvido a Turim no final de 1913, depois que o príncipe Soukhanoff viu a morte de perto em Brooklands. O FIAT S 76 foi vendido em seguida ao México para, finalmente, cruzar o oceano para chegar à Austrália. Foi lá, longe de seu país de origem, que ele termina finalmente sua carreira, totalmente destruído num grave acidente.

    O segundo S76 ficou na reserva, na Fiat. Os engenheiros italianos decidiram neutralizar esta fera infernal. O carro foi reformado em 1920 e depois desmontado. Em respeito a uma proeza tecnológica, seu impressionante motor foi preservado.

    Praticamente um século mais tarde, Duncan Pittaway, um inglês apaixonado pela história do FIAT S76, passou anos procurando a pista deste carro fabuloso. Sua obstinação e paciência o levaram à pista de um chassi recuperado do fundo de uma garagem na Austrália, muito possivelmente do Fiat acidentado, e de um motor conservado desde os anos 20 pela fábrica italiana.

    O colecionador reúne os remanescentes hitóricos e faz reviver o FIAT S76.

    Para grande alegria dos visitantes, Duncan Pittaway vai compartilhar seu entusiasmo e paixão organizando demonstrações de arrancada com seu monstro mecânico.

    Publicado em 13/01/2016


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