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  • Centrais multimídia roubam atenção dos motoristas
  • Por Jorge Meditsch

    Utilizar o celular dirigindo é uma infração de trânsito. Além de correr o risco de ser multado, o infrator assume o risco de se envolver em acidentes pelo desvio da atenção. “Pilotar” uma central multimídia envolve tanto ou maior perigo, mas o uso desses sistemas não é especificamente previsto como infração nem reprimido.

    A maioria dos carros de última geração é equipada com sistemas comandados através de telas de toque. Grande parte – em alguns modelos, praticamente todos – dos controles do automóvel, antigamente disponibilizados por vários botões no painel, são acessados agora através de pequenas caixinhas distribuídas na tela. Muitos deles exigem que o motorista recorra a um ou mais menus até serem encontrados. Isso inclui coisas simples, como procurar uma estação de rádio ou uma lista de músicas ou podcast. Ou alterar a temperatura ou a distribuição das saídas do ar-condicionado.

    A maioria das pessoas utiliza muito pouco os recursos oferecidos por esses sistemas. Elas acabam selecionando alguns poucos comandos e recursos que usam com mais frequência e ignorando a grande maioria, por não necessitarem deles.

    Grande parte dos controles do automóvel, antigamente disponibilizados por vários botões no painel, são acessados agora através de pequenas caixinhas distribuídas na tela

    Os fabricantes gostam de proclamar que os comandos na tela são fáceis e intuitivos. Intuição, porém, é algo que pode variar muito de pessoa para pessoa. O resultado é que aumentar ou diminuir o volume do som ou aumentar a temperatura do ar-condicionado pode tirar a concentração do motorista por 10 segundos ou mais – às vezes muito mais. Uma pesquisa da Fundação para Segurança do Trânsito do AAA (Automóvel Clube da América) constatou “ausências” de até 40 segundos para realização de tarefas não muito complexas. Durante esse tempo, o carro entra em “voo cego”, com todos os riscos que isso implica para o motorista, passageiros, outros veículos e pedestres.

    O risco envolvido é tão maior quanto a quantidade de sistemas e aplicativos disponibilizados. Em algumas centrais há bloqueios que evitam consultas e ajustes demorados com o carro em movimento, como pesquisar endereços ou escolher rotas em sistemas de navegação. Mas isso não acontece sempre, como no caso do espelhamento de celulares na tela, quando os comandos passam a obedecer ao smartfone, sem restrições de segurança.

    O fato é que as centrais multimídia tornaram-se ferramentas de marketing. A cada lançamento de carro, as fábricas proclamam as excelências de seus sistemas, a ponto de deixarem as características e virtudes dos automóveis em segundo plano. Isso lembra um período, aqui no Brasil, quando havia poucas novidades nos carros e as fábricas exaltavam as virtudes de seus sistemas de som.

    De qualquer forma, as telas de toque estão aí para ficar. Suas funções podem ser substituídas em parte por comandos de voz, mas esse método ainda não se popularizou. Do lado dos fabricantes, o incentivo para seu uso é terem se tornado mais baratas do que os sistemas de comando independentes, convencionais. Outro, que está se disseminando rapidamente, é abrirem possibilidades de atualização online e fornecimento de novos aplicativos, um novo ramo de negócios que as grandes marcas estão ávidas para explorar.

    Publicado em 26/05/2022


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