Home > Autoanálise > Salão 2018: o futuro confronta o presente
  • Autoanálise
  • Salão 2018: o futuro confronta o presente
  • A indústria fala no futuro do automóvel, trabalhando com conceitos revolucionários. Mas os lançamentos no mercado continuam seguindo a filosofia do quanto maior, melhor
  • Por Jorge Meditsch

    A indústria automotiva procura novos caminhos para o automóvel. Esse meio de locomoção individual, com mais de um século de popularidade, deve passar por grandes transformações técnicas e conceituais nos próximos anos. A maioria das fabricantes de carros que participam do Salão do Automóvel de São Paulo parece até ter combinado: o carro do futuro será conectado, poderá andar sem motorista, será movido a eletricidade e será compartilhado.

    Porém...

    O carro do futuro deve chegar rapidamente à Europa, território de vanguarda tecnológica e da consciência ambiental. Enquanto isso, as fábricas têm que continuar dando lucro e atender aos desejos dos consumidores. E a palavra de ordem é a sigla SUV.

    O Salão de 2018 transborda de lançamentos e conceitos de veículos altos, largos, pesados e potentes. Eles são o sonho imediato dos motoristas. O grande destaque da mostra deste ano não foge à regra: é a picape Tarok, da Volkswagen. A marca usou a mesma plataforma do Golf, Polo, Virtus e outros modelos para criar uma picape média (para os padrões brasileiros) e concorrer com a Fiat Toro e a Renault Oroch.

    A VW promete a Tarok para o segundo semestre do ano que vem e, transformada em modelo de produção, ela deve manter sua particularidade mais marcante: a capacidade de expandir a caçamba com a abertura do painel traseiro da cabine dupla e o rebatimento dos bancos traseiros. Um verdadeiro “ovo de Colombo” que atraiu designers e executivos de muitas concorrentes ao estande da VW para ver de perto a novidade.

    Além da Tarok a VW mostrou o T-Cross, seu primeiro SUV urbano nacional, que também chegará no ano que vem. O jipinho, do porte do EcoSport e seus vários assemelhados, tem estilo atraente e deve mexer com o mercado.

    A Ford vai mexer no EcoSport, tirando dele o tradicional estepe pendurado na traseira. A marca também mostrou no Salão um SUV maior, o Territory, que poderá ser feito no Brasil, mas chegará inicialmente importado da China. No estande ao lado, a Fiat, ou melhor, a FCA, exibe o conceito Fastback, construído sobre a plataforma da picape Toro. Ele poderá ser fabricado em Pernambuco, na fábrica da Jeep, onde já é feito, além do Renegade, o Jeep Compass, com a mesma plataforma.

    Presença esperada no estande da Mercedes-Benz, a Classe X, primeira picape da marca, não apareceu. A fábrica explicou que, como o lançamento deverá atrasar, considerou melhor não criar expectativas muito antecipadas. Sua irmã de projeto, a Nissan Frontier, já está nas concessionárias. Outra irmã, a Renault Alaskan, chega no ano que vem.

    Entre as importadoras, a Kia celebra a queda da taxa de 30% com a atualização de sua linha de produtos bem-resolvidos. Como atração, mostrou no Salão o elegante e poderoso Stinger GT, apresentado por Emerson Fittipaldi. O modelo, com motor de mais de 350 cv, deve dar prestígio à marca, mas custando mais de R$ 360 mil, não deve contribuir para o volume de vendas.

    Supervelozes

    Os elétricos são atração na mostra e devem começar a chegar ao Brasil em maior número. Mas, com preços de importado premium, não devem ocupar muito espaço no ranking de vendas

    Supervelozes são, por definição, supercaros e os que estão no Salão não fogem à regra. Portanto, se você quiser conhece-los, corra para o Salão – será muito difícil ver algum nas ruas. A McLaren Senna, por exemplo, custa mais de R$ 8 milhões e três exemplares estão reservados para compradores brasileiros.

    O grande destaque do estande de Mercedes-Benz é o EQ One, com mecânica derivada da Fórmula 1 – e mais potência. Com um V6 de competição e quatro motores elétricos, um para cada roda, ele desenvolve 1.000 cv e pode passar dos 350 km/h. O preço? Se você precisa perguntar, não pode comprar. Deve ser mais caro ainda que a McLaren Senna mas isso não impede que, como ela, também tenha três compradores brasileiros (serão os mesmos?).

    Com preço mais módico, a Porsche mostra a edição especial 911 GT3 R, que acaba de estabelecer o recorde mundial para o circuito de Nürburgring para carros autorizados a andar legalmente nas ruas. Ele está à venda por alguma coisa em volta de R$ 1,2 milhão.

    Elétricos e distantes

    Eles são os precursores do carro do futuro e devem começar a chegar ao país em maior número em breve. Mas maior número não quer dizer muita coisa: um hatch elétrico básico, como o Chevrolet Bolt, vai custar R$ 175 mil. O Nissan Leaf sairá por R$ 178,4 mil. Junte a isso a quase inexistente estrutura para recarga de baterias em locais públicos e dá para concluir que, por enquanto, os carros movidos a bateria serão apenas uma curiosidade. Uma pena.

    História viva

    Há apenas um jornalista que esteve presente em todas as edições do Salão do Automóvel de São Paulo, desde sua primeira realização no Pavilhão da Bienal, em 1960. Trata-se de Mário Pati que, por isso, foi homenageado pela direção da mostra e por dezenas de colegas no auditório montado pela Bosch.

    Estar em todos os salões é arte importante do currículo de Pati, mas talvez não seja a mais marcante. Ele pode ser considerado um dos homens que trouxeram a Fórmula 1 para o Brasil, na década de 1970, e foi diretor do GP Brasil por várias edições, responsável, entre outras coisas, por dar a bandeirada final nas provas em Interlagos.

    Pati trabalhou na Folha de São Paulo nas décadas de 1960 e 70 e foi editor de automóveis no Diário de São Paulo. Também colaborou e abrilhantou o AutoEstrada durante alguns anos, na década passada. Foi fundador e primeiro presidente da Abiauto, Associação Brasileira da Imprensa Automotiva. Na década de 1950, foi piloto amador. E muito mais.

    Publicado em 10/11/2018


    Copyright © 2014 - Autoestrada.com.br - todos os direitos reservados