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  • Muita informação, muito entretenimento e muita confusão
  • Cada vez mais os carros chegam carregados de recursos e sistemas sofisticados, com mil e uma utilidades. Mas eles são mesmo úteis?
  • Por Jorge Meditsch

    Quem acompanha os lançamentos de novos modelos assiste, a cada um, à chegada de mais e mais complexos sistemas e recursos eletrônicos, voltados à segurança e, principalmente, ao entretenimento. Todos eles, em geral, centralizados em sistemas de controle específicos de cada marca e, portanto, diferentes entre si.

    Todos os sistemas levam o rótulo de “intuitivo”, isto é, qualquer pessoa deveria ser capaz de operá-los sem precisar pensar muito, de forma automática.

    A experiência não confirma isso. Nos testes curtos, normais nos eventos de lançamento de novos carros, em geral não há tempo para estudar sequer os princípios gerais dos sistemas de “infotainment”. Às vezes, fica difícil descobrir até mesmo como navegar via GPS, o que deveria ser básico. Há sistemas que exigem vários passos para uma simples troca de estação no rádio. Mesmo quando os carros são disponibilizados por vários dias, nem sempre é fácil descobrir como utilizar todos os recursos disponíveis.

    O que é intuitivo para um programador ou um engenheiro, nem sempre é fácil para um advogado ou um gerente de banco.

    Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, que ouviu 14 mil proprietários de carros constatou que, de forma geral, as fábricas estão equipando os carros com itens que a maioria dos clientes não utiliza e, frequentemente, nem sabem que existem.

    "É como uma corrida armamentista - cada um quer ter o máximo de tecnologia em seus carros. E os consumidores estão confusos", declara Mike Chadsey, vice-presidente da Nielsen, empresa especializada em pesquisas que realizou o estudo juntamente com a consultoria automotiva SBD.

    Na pesquisa, realizada através de questionários online entre abril e maio, 43 por cento dos participantes afirmaram que as fábricas estão instalando tecnologias de informação e entretenimento em demasia nos veículos novos. Eles também afirmam que os itens disponíveis atualmente, em geral, não os satisfazem plenamente.

    Entre 42 itens pesquisados, desde propulsão híbrida a suspensões eletrônicas e câmeras de ré, os 10 menos apreciados eram todos relacionados à informação e entretenimento. O considerado pior foi o reconhecimento de voz. Outros com baixa cotação foram a integração com smartfones, aplicativos pré-instalados e painéis de instrumentos personalizáveis.

    A indústria entrou numa corrida para ver quem mais disponibiliza novos sistemas de informação e entretenimento, além de sistemas de assistência ao motorista. O consumidor acaba pagando pelo que não usa ou incentivado a comprar pacotes de opcionais dispendiosos

    O diretor da SBD, Andrew Hart, disse que os fabricantes estão instalando novos itens porque a tecnologia ajuda a atrair compradores e pode contribuir para aumentar o faturamento, incentivando os consumidores a adquirir pacotes opcionais de alto custo.

    O problema é que consumidores insatisfeitos nem sempre se tornam clientes leais às marcas. Para Hart, as fábricas poderiam promover a fidelidade de seus clientes "oferecendo essas tecnologias de forma correta, criando um conjunto de itens que as pessoas realmente queiram usar e facilitando seu uso".

    Os itens de informação e entretenimento que os donos de carros mais ignoram são:

    - Drives de armazenamento de música - a maioria das pessoas mantém suas músicas preferidas em seus telefones ou iPods e não se interessam em carrega-las em seus carros.

    - CD players - muitas fábricas estão avaliando por quanto tempo eles devem continuar equipando os carros e se já não deviam ter desaparecido, como aconteceu com os toca-fitas.

    - Prestação de serviços – ainda quase inexistentes no Brasil. Nos EUA, o sistema OnStar, da GM, é bem aceito, mas outros como o BMW Assist e o Hyundai BlueLink atraem poucos adeptos após o período gratuito de experiência.

    - Reconhecimento de voz - a tecnologia está evoluindo e os carros e utilitários mais novos já tem sistemas que são capazes de reconhecer melhor a voz dos usuários. Mas a maioria dos consumidores que já experimentaram os sistemas de reconhecimento de voz desistiram de utilizá-los e continuam preferindo apertar botões.

    Mas há itens bem mais prosaicos que são refugados pelos motoristas. Conheço várias pessoas, por exemplo, que jamais usaram o controlador de velocidade de cruzeiro, ou “piloto automático”, um equipamento que já existe há muitos anos e que, além de ajudar a economizar combustível, sobretudo nas estradas, também pode evitar multas por excesso de velocidade por descuido do motorista. A maioria diz que não sabe operar o sistema, não vê utilidade nele ou não se sente segura quanto ao que poderia acontecer numa emergência.

    Um conhecido meu vendeu há pouco tempo seu BMW X3 sem jamais ter trocado a estação do rádio, que pediu que fosse definida quando recebeu o carro 0 km. Ele nunca usou o GPS nem conectou seu celular via Bluetooth para usar com o carro em movimento. De outras funções mais sofisticadas, evidentemente, nunca tomou conhecimento. Nem por isso deixou de pagar por elas.

    Publicado em 18/06/2015


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