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  • Roda Livre: o recasamento Ford-VW e Alonso em Le Mans
  • A Ford e a Volkswagen já conviveram no Brasil, nas décadas de 1980 e 90. Fizeram carros iguais com marcas diferentes
  • Por Jorge Meditsch

    Recasamento: Ford e Volkswagen anunciam noivado

    A Volkswagen e a Ford vão desenvolver e fabricar em conjunto novos modelos de veículos comerciais leves. O projeto é global e deverá mostrar seus frutos dentro de um par de anos.

    A área de comerciais leves passa por uma rápida evolução, impulsionada, entre outros motivos, pelo aumento de compras via Internet, que levou a um grande aumento nos serviços de entregas. A tendência é as fabricantes oferecerem não apenas seus carros, mas sistemas completos de logística, que otimizarão sua utilização. A propulsão elétrica – bastante viável para o tipo de uso, urbano e cobrindo distâncias curtas – deve se destacar nos projetos. Condução autônoma também.

    No Brasil, as duas empresas já tiveram uma experiência de junção, a Autolatina, que resultou em modelos comuns vendidos com marcas diferentes, nas décadas de 1980 e 90. Também houve intercâmbio de componentes e um dos mais bem-sucedidos foi o motor Ford 1,0 litro que equipou com sucesso o primeiro Gol 1000 da Volkswagen.

    Entre as maiores dificuldades de associações entre grandes marcas está o conflito entre culturas empresariais diferentes. Isso aconteceu várias vezes e uma das mais lembradas foi a frustrada Daimler-Chrysler, onde alemães e americanos, além de línguas diversas, pensavam de maneira muitas vezes contraditória.

    Alonso troca de japoneses e vence em Le Mans

    O bicampeão da Fórmula 1, Fernando Alonso, somou uma linha importante ao seu currículo: venceu a principal corrida de longa duração do mundo, a 24 Horas de Le Mans, dividindo o volante de um protótipo híbrido com mais dois pilotos.

    Não deixou de ser uma espécie de vingança, trocar a Honda, que só lhe trouxe frustrações na F-1, por sua maior rival compatriota, a Toyota.

    Depois de vários anos chegando perto da vitória, a Toyota praticamente correu sozinha pelo primeiro lugar na geral da prova francesa: as rivais Audi e Porsche deixaram a categoria LMP1, a mais poderosa disputando a corrida. O custo de desenvolvimento desses protótipos fica na casa das centenas de milhões de dólares e o retorno não justificava os gastos para os alemães.

    Os carros da LMP1 usam tecnologia híbrida semelhante à da Fórmula 1, só que as corridas do Campeonato Mundial de Endurance podem durar entre três e 24 horas, exigindo um nível de resistência jamais sonhado na Fórmula 1. O preço para isso é altíssimo.

    Adrenalina à moda antiga

    No meio de tantas aventuras pasteurizadas que povoam a tv e a Internet, uma história que envolveu desafios e riscos reais: em 1955, três jovens de 19 anos, Hugo Vidal, Charles Downey e Jan Stekly, partiram para uma épica viagem rodoviária entre o Brasil e os Estados Unidos, que incluiu uma passagem pelo Alasca.

    Para driblar o limite para importações no Brasil, os alemães da Porsche apelaram para o jeitinho: criaram um modelo básico que só existia no papel. Na prática, o 912 E era igual aos carros vendidos na Europa

    Numa era em que praticamente não havia estradas dignas desse nome nas Américas do Sul e Central, o trio optou por um Jeep Willys standard, com capota de lona, e para viabilizar a aventura, conseguiu o apoio de 25 fabricantes nacionais de autopeças – é bom lembrar que a fabricação de carros no Brasil só começaria em 1956.

    A aventura levou um ano e 12 dias e cobriu 73 mil quilômetros. A história está no livro “Operação Abacaxi – Flashes de uma aventura”, narrada por Hugo Vidal, hoje com 85 anos de idade.

    O livro pode ser comprado através do site da Editora Overlander (www.overlanderbrasil.com/op) e custa R$ 95,00.

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    1967: o Porsche 912 chega ao Brasil com modelo exclusivo

    Em 1963 o novo e revolucionário Porsche 911 foi apresentado no Salão de Frankfurt. O início da comercialização do novo modelo, com linhas marcadamente distintas do 356, se deu em 1964, reacendendo o interesse pela marca no Brasil, que havia caído pela falta de uma representação. A entrada do novo modelo, porém, foi retardada tanto pela inexistência de um importador oficial como pelos limites impostos à importação na época. Era proibido introduzir no país carros que custassem mais de US$ 3.500,00.

    Mas em 1967 Paulo Goulart, proprietário da concessionária Volkswagen Dacon, decidiu candidatar-se a representar a Porsche no Brasil. Como tinha total aversão a viagens de avião - uma das muitas facetas de sua incrível personalidade -, encarregou o piloto e designer Anísio Campos de fazer o primeiro contato com a fábrica. Anísio acabara de ganhar da revista Quatro Rodas uma viagem à Europa como prêmio pela escolha do Puma DKW, um projeto seu, como o mais belo carro nacional.

    O jeitinho alemão

    "Levei um grande dossier, mostrando tudo sobre a Dacon, com fotos da loja e das oficinas e narrativas sobre a participação nas corridas, com os Karmann-Ghias Porsche, que eram nosso grande orgulho", recorda Anísio. Sem marcar previamente uma reunião, ele chegou a Stuttgart no momento errado, em pleno mês de agosto, quando as pessoas que poderiam tomar alguma decisão a respeito do assunto estavam desfrutando das férias de verão.

    Em setembro, Campos voltou a Stuttgart e foi recebido pelos diretores da Porsche. Depois de alguma conversa, em que foi informado de que havia pelo menos mais dois candidatos a representantes da Porsche no Brasil, conseguiu obter o que queria e a Dacon passou a ser a primeira importadora oficial.

    Havia ainda um obstáculo a superar: o limite de US$ 3.500,00 no preço dos carros importados. O modelo mais barato da Porsche, o 912, custava mais.

    A solução exigiu uma boa dose de diplomacia e uma flexibilidade que contraria a imagem que muitos têm dos alemães. Para adequar o preço à lei, Anísio sugeriu que fossem retirados alguns equipamentos do carro, como o sistema de aquecimento. Depois de uma resistência inicial, os alemães acabaram concordando e criaram um modelo especial para o mercado brasileiro, identificado pela letra E.

    Com um logotipo próprio, o Porsche 912 E figurava na lista de preços da fábrica com o valor de US$ 3.460,00. Na realidade, era exatamente igual aos 912 vendidos no resto do mundo - nenhum equipamento foi retirado, possivelmente pelo trabalho extra que isso acarretaria na linha de montagem.

    Muitos europeus bem que tentaram adquirir aquele modelo mais barato que figurava nas listas de preços, se dispondo a abrir mão das conveniências do ar quente - fundamental, na Europa - e de alguns outros acessórios, mais ou menos dispensáveis. A verdadeira versão do carro, porém, tornou-se um segredo bem guardado, compartilhado entre a fábrica e seus clientes brasileiros.

    Publicado em 20/06/2018


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