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  • Coluna de Wagner Gonzalez
  • Conversa de Pista: Wolff nega a venda da Mercedes, mas não acaba com as especulações
  • Imbatível na pista, futuro da equipe na F1 é alvo de bullying fora dela
  • Por Wagner Gonzalez

    Em uma entrevista que fiz, às vésperas de uma abertura de temporada, na África do Sul, Ron Dennis comentou, acertadamente e com conhecimento de causa, que mais difícil que vencer um Campeonato Mundial de F-1 é manter-se nessa posição. Dito isso, não é difícil enxergar que a vida de Toto Wolff é bastante agitada e pouco tranquila, cortesia do reinado iniciado em 2014 e liderança da atual temporada aumentada após a conquista a terceira dobradinha do ano ao final do GP da Toscana (veja aquio resultado completo dessa prova). Em meio a um calendário marcado por sequências de provas de três fins de seguidos, decisões como o planejamento adequado, a dificuldade de garantir a renovação do contrato com Lewis Hamilton e comentários sobre a possível venda do time mantém absurdamente ocupado o austríaco detentor de 30% das ações da empresa.

    Os primeiros indícios de que algo maior está acontecendo na equipe Mercedes começaram a surgir em meados de junho: no dia 15 daquele mês foi anunciado que Andy Cowell (engenheiro responsável pelo projeto do motor híbrido de F1 da marca) deixaria ao cargo um mês mais tarde, e aí enxergou-se o início do fim de um ciclo. O envolvimento simbólico de Toto Wolff na transformação da Racing Point em Aston Martin foi outra indicação sutil: ainda que essa participação seja de apenas 0,99%, estamos falando de um negócio avaliado em algumas centenas de milhões de dólares. Sua participação na recuperação de uma marca que estava à beira da falência aqueceu ainda mais os comentários sobre seu futuro no projeto de F1 do grupo alemão.

    Sempre frio, calculista e usando seu faro apurado para estruturar projetos de sucesso, Wolff conseguiu temporariamente manter a situação sob certo controle. No último fim de semana, porém, a notícia de que o grupo Ineos estaria disposto a comprar 70% da operação Mercedes na F-1, soou como alguém ter pisado nada levemente no calo deestimação no pé de apoio de Toto. Tem a ver com isso o fato do corneteiro dessa possível venda ter sido o fundador da equipe hoje conhecida como Racing Point: antes de ser adquirida por Lawrence Stroll, o time funcionou como Force India (de outubro de 2007 a julho de 2018), Spyker (entre 2005 e 2006) e Midland, que em 2005 adquiriu o controle da Jordan Grand Prix, operação fundada por Eddie Jordan que estreou na F-1 em 1991. Fácil concluir que o ex-contador irlandês ainda tem muitos contatos entre os colaboradores da futura Aston Martin Grand Prix...

    A Ineos é parceira da Mercedes desde 2019e em janeiro deste ano a empresa que fatura US$ 60 bilhões por ano tornou-se o principal parceiro da equipe. Com interesses tão variados quanto ao desenvolvimento do Grenadier (um 4x4 de aparência similar ao Land Rover Defender), química e equipes de ciclismo, o grupo criado e administrado por Sir Jim Ratcliffe tem sede de expansão que a exposição mundial da F1 pode ajudar a saciar. O anagrama Ineos deriva do latim Ineo (novo começo) e remete a Eos, deusa grega do amanhecer, e Neos, grego para inovador. A fortuna de Ratcliffe, avaliada pela revista Forbes em US$ 17,8 bilhões em julho é 20 vezes maior que a suposta oferta de US$ 899 milhões que, segundo Eddie Jordan, ele teria feito para comprar 70% das ações da equipe alemã baseada em Brackley e Brixworth, na Inglaterra.

    Nas últimas semanas Toto Wolff tentou acalmar os rumores dizendo que está decidido a continuar na operação Mercedes F-1, onde o grupo Daimler tem 60% e o espólio de Niki Lauda os 10% restantes. Estas cifras sugerem que Ratcliffe entrou nessa mesa de pôquer com duas boas cartas à mão: teria negociado o legado do tricampeão austríaco falecido no ano passado e convencido os alemães que sua intenção é consistente. Ao comentar a notícia Wolff foi quase tão direto quanto aqueles jabs que lutadores irlandeses exploravam em lutas de box clandestinas em armazéns no cais de Nova York. Ocorre que além de não nocautear Jordan deixou em aberto que o bilonário inglês poderá se tornar investidor na equipe quando deu sua visão dos fatos:

    “As pessoas pegam retalhos aqui e ali e montam uma história em torno disso. Temos um relacionamento magnífico com a Ineos, com quem somos parceiros em vários projetos de alta tecnologia. Qualquer coisa além disso é pura especulação: a Daimler não tem intenção de abrir mão de sua equipe, a Ineos não tem intenção de comprar uma participação majoritária no time e eu não tenho razão de abrir mão de minhas ações. Dito isso, tem muita coisa aí que foi inventada.”

    Em poucas palavras, Sir Jim Ratcliffe pode não comprar a equipe inteira, apenas uma parte, e Eddie Jordan não inventou uma história, mas descreveu algo que está negociado. Cabe lembrar que em 2019 Roger Penske e Dmitry Mazepin (principal acionista e presidente da empresa química Uralchem) também demonstraram interesse no negócio que agora é objeto de desejo do quinto homem mais rico do Reino Unido.

    Publicado em 17/09/2020


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