Em Detroit não faltaram carros-conceito sensacionais, nem modelos esportivos e de alto luxo. Mas o mais importante modelo exibido na mais importante mostra automotiva americana foi um veículo bem mais modesto: a nova picape Ford F150.
Exagero? O tempo vai confirmar. A Ford deu um passo ousado ao mudar o carro mais vendido nos Estados Unidos há nada menos que 32 anos. A nova versão é cerca de 300 quilos mais leve que a anterior, graças ao uso intensivo do alumínio na carroceria e aços de alta resistência no novo chassi.
Trezentos quilos é um número considerável: a Volkswagen celebrou com bandas e fanfarras uma redução de 200 kg ao lançar a última geração do Touareg, para se ter uma ideia. Na F150, o peso menor significa maior capacidade de carga e de reboque e, acima de tudo economia de combustível e redução de emissões.
Ousadia ao fazer automóveis não pode deixar de ser acompanhada com prudência. A Ford fez questão de deixar claro: a nova F150 é a mais robusta de todos os tempos.
Novos motores
Além da redução no peso, a economia no consumo deve ser potencializada pelos novos motores oferecidos: um novo V6 2,7 litros com função Start-Stop e potência equivalente a V8s médios de concepção mais antiga e um V6 3,5 litros com duplo comando de válvulas variável. A tecnologia Start-Stop ajuda a economizar principalmente nas cidades, onde o motor menor tem mais apelo para o consumidor.
Um detalhe a mais: as novas picapes equipadas com motores EcoBoost possuem grades com fechamento ativo. Elas só se abrem quando o motor precisa ser resfriado, como em marcha lenta, durante o verão ou no trânsito lento. Fechada, a grade ajuda a reduzir o arrasto aerodinâmico, aumentando a eficiência do veículo.
A Ford anuncia uma economia média de três milhas por galão (1,27 km/l) com a nova F150. Não é pouco, a redução de consumo fica em torno de 20 por cento. Mais significativa, porém, é a visão de outra perspectiva: no ano passado, foram vendidas 763 mil picapes F150. Alguns analistas arriscam que, somados os milhões de quilômetros rodados por esta frota anualmente nos Estados Unidos, o lançamento da nova F150 poderá resultar na maior redução no consumo de gasolina nacional em décadas.
Riscos e custos
A iniciativa da Ford de utilizar alumínio em larga escala envolve riscos e altos custos. A empresa garante aos clientes a resistência do material da carroceria a pequenos amassados, além de fácil reparabilidade. Mas só o tempo dirá se os tradicionalmente conservadores compradores de picapes irão aceitar a novidade.
Ao mesmo tempo, o novo conceito de picapes mais leves irá forçar necessariamente a concorrência a tomar atitudes para também reduzir o peso de seus veículos. O uso do alumínio, portanto, parece um caminho sem volta. Paradoxalmente, por ser pioneira, a Ford pode ter facilitado a decisão de suas concorrentes ao desenvolver e adotar novas tecnologias. É o preço do pioneirismo.
Publicado em 20/01/2014