Marqueteiros e publicitários vivem num mundo à parte, onde a língua oficial é o inglês – muitas vezes mal compreendido e quase sempre mal pronunciado. Daí, concluem que no Brasil todo mundo fala a língua de Shakespeare. Para quem não se inclui nesse universo, “kick”, na língua dos americanos e britânicos, significa chute, ou pontapé.
Bola pra frente: a Nissan aproveita a onda olímpica para lançar com pompa e circunstância no Brasil seu novo jipinho, o Kicks. Ele chega em versão importada e cara, com refinamentos acima do que seu DNA prometeria: estofamento de couro até no painel, por exemplo, coisa de sedã de luxo alemão.
A edição de lançamento, Rio 2016, se destaca na paisagem pelo teto dourado. A capota flutuante, aliás, domina o design do carro, mostrando uma influência clara do Range Rover Evoque, sonho fora do alcance da maioria absoluta dos compradores brasileiros. O estilo do Kicks é mais leve e esportivo que o da maioria de seus concorrentes – uma lista que vai do pioneiro na área, o Ford Ecosport até o Renault Duster, passando por versões “aventureiras” de hatches de outras marcas.
O Kicks nasce com vocação declaradamente urbana: ao contrário da Ford e da Renault, a Nissan não se preocupou em oferecer a opção do 4x4, que existe no Ecosport e no Duster mais para fim de imagem do que para conquistar compradores. “SUVinhos” com tração integral vendem muito pouco, quase nada.
O Nissan Kicks chega às concessionárias a partir de 5 de agosto – data da abertura dos Jogos Olímpicos. Graças ao evento, ele mereceu uma camapnha de lançamento caprichada, patrocinada pela matriz japonesa, que incluiu o acompanhamento da tocha e uma série de eventos de imprensa. Também devido ao evento, ele chega importado do México, já que o início da fabricação em Resende, RJ, vai demorar um pouco.
Mecanicamente, o Kicks aproveita a plataforma do Versa e é oferecido inicialmente com o motor 1,6 litro com honestos 114 cv e torque máximo de 15,5 kgm disponível a uma rotação um tanto elevada, 4.000 rpm. O câmbio é de variação contínua. A combinação é eficiente para uso urbano e para viagens curtas. O câmbio CVT, apesar de não agradar quem é metido a piloto, é uma solução extremamente econômica no dia-a-dia, por manter o motor sempre na rotação ideal, sem os “degraus” criados pelas trocas de marchas nos automáticos convencionais. Um destaque no Kicks é que o botão que no Versa serve para desligar o overdrive, elevando o giro do motor para obter mais agilidade, ganhou a designação de “tecla sport” – os marquetólogos, desta vez, foram mais inteligentes.
Agradável de conduzir, o Nissan Kicks traz alguns elementos de segurança importantes para veículos com pé direito elevado, como o Controle Dinâmico de Chassi (Chassi Control), que é composto pelos Controle Dinâmico em Curvas (Active Trace Control), Estabilizador Ativo de Carroceria (Active Ride Control) e Controle Dinâmico de Freio Motor (Active Engine Brake), que atuam na suspensão, freios e também na estabilidade. Em alguns países, esses sistemas já são obrigatórios para utilitários, mas aqui ainda não são universais.
O espaço interno do Kicks é bom, em especial para os passageiros de trás, muitas vezes esquecidos no projeto de utilitários de seu segmento. O painel é moderno, com mostradores digitais de fácil leitura no painel multifuncional colorido de 7 polegadas. O motorista pode navegar entre 12 telas disponíveis, que mostram as informações de funções como computador de bordo, configurações do sistema de áudio e detalhes sobre economia de combustível, além de comandos para configuração do controle do chassi e dos sistemas avançados de assistência ao motorista. O sistema de navegação GPS também mostra no display as instruções do percurso.
O equipamento de áudio conta com tela colorida que oferece um sistema completo de informações e entretenimento, navegação por satélite e áudio, que pode ser totalmente integrado a smartphones, assim como acesso fácil a outros recursos como Facebook e o buscador Google Online Search. A tela também é utilizada pela câmera de ré e pelo Detector de Objetos em Movimento (Moving Object Detection).
A Nissan propagandeou bastante os bancos, que segundo a fábrica contam com uma tecnologia chamada ‘gravidade zero’, desenvolvida pela NASA. Um tanto estranho, pois com gravidade zero não se usa bancos. Mas eles são confortáveis e bonitos, o que é importante. Talvez, se tivessem mesmo um efeito de anulação da gravidade, obrigariam os usuários a usar o cinto de segurança para não flutuar no interior do carro. Seria fantástico... Já o porta-malas, em geral um ponto fraco no segmento, tem razoáveis 432 litros de capacidade.
Versão única – por enquanto
Disponível inicialmente apenas na versão SL, a mais completa da linha, o Nissan Kicks vem equipado com sensor de estacionamento, controles eletrônicos de tração e estabilidade, travamento central automático das portas e do porta-malas com o veículo em movimento (a partir de 24 km/h), abertura e fechamento das portas e vidros dianteiros e traseiros através de controle remoto da chave, fixadores traseiros para cadeiras de crianças (ISOFIX), airbags frontais, laterais e de cortina, acendimento automático dos faróis (sensor crepuscular), apoios de cabeça ajustáveis para os 5 ocupantes e ar-condicionado automático digital.
O preço é um tanto olímpico: enquanto não chegarem versões mais acessíveis, o Kicks vai custar nada menos que R$ 89.900,00. Mais os acréscimos tradicionais, como R$ 1,5 mil pela pintura metálica, R$ 2,5 mil pelo teto dourado e outras miudezas.
Publicado em 01/08/2016
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